quinta-feira, agosto 24, 2006

A Lógica do Inefável

A LÓGICA DO INEFÁVEL

I. O idealismo procura superar o hiato entre a esfera da subjetividade e a da objetividade, entre a idéia e a realidade, encontrando no sujeito humano a orientação para o objeto infinito, que, posteriormente, será reconhecido como o Sujeito absoluto.

Há também o perigo de uma redução ética do teísmo, por influência neokantiana, considerando a idéia de Deus, enquanto criador do mundo e Senhor da história, como mero postulado da razão moral que ajuda o homem a fundamentar a certeza da própria dignidade.

A morte constitui a concretização da ameaça à realidade humana em sua finitude essencial; o mal moral constitui a negação de sua realidade ética ou sua contradição; o absurdo, por sua vez, constitui a concretização da ameaça à condição humana. Enquanto tensão espiritual de vontade e consciência em busca de sentido. A realidade se encontra, pois, ameaçada ôntica, ética, historicamente, enquanto espírito no mundo. Deus só se nos revela de modo significativo no confronto metódico entre a condição humana como questão misteriosa, e os símbolos da revelação cristã, com irrupção do sentido incondicionado e último de toda a realidade. Deus só pode ser encontrado na dimensão do Incondicionado, como sentido último de toda realidade, enquanto destino e liberdade. Deus é o fundamento do ser e do sentido. Não pode ser encontrado como um objeto a mais no mundo.

Um intento de mediação dialética entre escolástica e modernidade, entre objetividade e subjetivismo, revalorizou o momento experimental do sujeito crente e da própria tradição dogmática, enquanto é a continuidade de uma mesma experiência de fé objetivada literariamente. Só existe revelação quando há uma experiência de fé. Enquanto momento incondicionado e sacral, a experiência religiosa é análoga nas grandes religiões. Enquanto momento histórico e profético, a revelação bíblica conserva toda a sua originalidade e singularidade. Superando um conceito meramente “mítico” e “antropomórfico” da experiência religiosa da revelação crente, foi elaborada uma idéia dialética da revelação, em analogia à experiência religiosa da inspiração bíblica, acentuando dois momentos determinantes: o momento da experiência religiosa imediata e incomunicável, por um lado, e o momento imediato, lógico e comunicável da tematização e elaboração conceitual categorial da mesma experiência, em ordem à sua comunicação social, por outro lado.

A experiência religiosa cristã é completa, pois nela o divino é vivido como revelação e contemplação e como aceitação e recepção. Por isso, o ato religioso da fé não pode reduzir-se idealmente a um único princípio lógico da identidade ou da diferença. Identidade mística e diferença ética coexistem numa tensão dialética superada somente momento paradoxal da graça.

O teísmo bíblico é simultaneamente místico e profético, cúltico e ético. Sua mística, porém, não se confunde com a identidade, nem o seu culto com a magia; muito menos a sua ética leva ao desespero ou a sua profecia se manifesta como pura denúncia destrutiva, dado que a revelação bíblica é também evangelho, anúncio da salvação, configuração da presença da graça.

Com efeito, a efeito, a proposição da linguagem religiosa não pode ser considerada como meramente exibitiva e informativa, como o anúncio de uma perfeição absoluta do ser divino. Nem mesmo coincide com a lógica do silogismo aristotélico de uma só variável. Uma vez que se fala sempre de Deus em relação com o homem e do homem em relação com Deus, a linguagem religiosa deve ser estudada segundo um modelo de lógica bivalente.

A multiplicidade do uso lingüístico na linguagem religiosa se confirma pela globalidade da própria experiência religiosa subjacente, que inclui a linguagem do eu, na expressão da própria experiência crente; uma linguagem do tu, na orientação para o consenso lingüístico normativo da fé; uma linguagem do ele, como informação sobre a mensagem religiosa e seu referente último.

Não seria Deus da revelação um “deus escondido”? Mesmo sendo totalmente diferente do ídolo representável e objetivável, Deus não se faz presente para guiar o homem no seu futuro, tornando-se disponível nos momentos mais dramáticos da existência? Tanto para o indivíduo religioso como para a comunidade crente, o Deus que se mistura com a história aparece não somente como realidade absoluta e infinita, mas, sobretudo, como realidade viva e pessoal. Sendo assim, o resultado da divina liberdade na história da salvação só pode ser conhecido pela luz da fé. Pois são incapazes de ver o momento religioso da fé a filosofia religiosa e a razão contemplativa e crítica. O niilismo ateu e neopositivismo agnóstico que negam a transcendência divina, em sua identidade singular e em sua diferença infinita, ou duvidam da cognoscibilidade de Deus e da certeza da fé, não podem contemplar a revelação bíblica e o mistério da fé, algo empírico e real na comunidade cristã. O Deus próximo e imanente, fiel e misericordioso, que nos ouve e se comove está além da noção ontológica do fundamento imóvel (motor immobilis) ou da idéia da autonomia divina (deus causa sui). A experiência da fé nos conduz a Palavra que nos pode falar realmente de Deus em sua ação salvífica e em sua liberdade indecifrável. Esta Palavra, mistério revelado na plenitude dos tempos, é Cristo Jesus, “ Έν άρχη ό λόγος, καί ό λόγος ήν προς τον Θεόν, καί Θεός ήν ό λόγος”. João 1.1

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro professo Marcio, achei ótimo o seu blog eu não sabia que tinha. Os ensinamentos maravilhosos, não deu para ler todos mas li até, Derrubando os conflitos da alma. que Deus continue sempre derramando suas bençãos em tua vida para que possa esta abençoando no nome de Jesus as pessoas. A Paz do Senhor Jesus.

Rita