quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Derrubando Os Conflitos da Alma

Lição 2
Autoridade Espiritual Sobre o Medo

Texto Principal
Mt 14.22-31

Introdução
“Dos erros que cometemos, um consiste em ter medo do que não deveríamos, outro ter medo como não deveríamos, ou quando não deveríamos” Aristóteles. O medo é algo natural, uma reação natural. A criança tem medo do escuro, de trovões, e até mesmo adultos têm medo de insetos. Porém, quando atinge toda a personalidade do indivíduo leva-o a um comportamento anormal. Este medo descontrolado “faz-nos muitas vezes tomar uma árvore por um urso” Shakespeare. Gigantes por maiores que o poder de Deus. Nm 13.33; 14.1; 1Sm 17.24.

1. O Medo e Suas Causas
Como mecanismo de defesa o medo é normal e saudável. Evitar animais ferozes, lugares perigosos, pessoas violentas, atitudes que tentam a Deus. O medo pode nos fazer buscar a Deus: Josafá 2Cr 20.3. No entanto, a presença do medo injustificado, sem a confiança em Deus, impede freqüentemente certas pessoas a agirem na vida espiritual e de realizar a obra de Deus. Nesse momento a pessoa é tomada por um medo que muitas vezes sabe que é absurdo, diante de um Deus que faz maravilhas, mas não consegue se livrar desse medo. Assim homens intrépidos como Elias fogem da ameaça 1Rs 19.1-4, como Pedro negam a Jesus Mt 26.69-75, os discípulos fogem Mt 26.56, autoridades que crêem em Jesus não o confessam Jo 12.42, o Pedro cheio de unção teme os da circuncisão Gl 2.12, o jovem rico teme perder toda a sua fortuna, Lc 18.18-23. O medo excessivo não aceita desafios, por isso, o homem medroso enterra o seu talento, tem medo de ser rejeitado, de errar, do futuro. Até mesmo medo da morte. “O desespero que se perde no infinito é, portanto, imaginário, informe. Porque o eu não tem saúde e não está livre de desespero, senão quando, tendo desesperado, transparente a si mesmo, projeta-se até Deus.” Kierkegaard. “Assim como as crianças tremem e têm medo de tudo na escuridão cega, também nós, à claridade da luz, às vezes tememos o que não deveria inspirar mais temor do que as coisas que aterrorizam as crianças no escuro”. Lucrécio
1.1. O Medo e a Ira
“Do negro ventre do medo, geraram-se as rubras faces da ira.” Mira y Lopes. Muitas vezes o fanatismo religioso, racial ou ideológico é uma enfermidade do medo. O medo de perder o status, o poder, as riquezas. O rei Saul quando viu que o povo amava mais a Davi, intentou matá-lo, 1Sm 18.6-9. O rei Herodes com medo de Jesus matou as criancinhas Mt 2.16, os fariseus planejaram a sua morte Mt 12.14. A Bíblia nos relata que Jesus pregava com autoridade e era diferente dos escribas, Mt 7.28,29. Quem usa da força para liderar, isto é, coage alguém para fazer a sua vontade sempre terá medo, porém quem tem autoridade leva as pessoas a fazerem o que ensina e a respeitá-lo de boa vontade. Autoridade não se vende e não se compra se conquista com sangue, mais precioso que ouro e prata. Ver 1Pe 1.18,19

2. O Medo e a Autoridade Espiritual
Deus deu aos seus servos, autoridade sobre o medo. Autoridade Espiritual. O Diabo a todo custo tentará impor o medo, por meio da opressão: tentando e perseguindo. Desejará cirandar como trigo “Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo;” Lc 22.31. A seu serviço existem principados, governadores das trevas deste século e hostes espirituais da maldade nas regiões celestiais, Ef 6.12. ‘O único que pode interferir em sua vida é Cristo, e não o diabo. Porém, se você proclamar derrota ela acontecerá. Daí a importância de rompermos os pactos, com voz bem audível.’ Ver Rm 10.9,10. O que é poderoso para destruir fortalezas? “Pois as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus, para demolição de fortalezas; derribando raciocínios e todo baluarte que se ergue contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo;” 2Co 10.4-5. Numa Batalha Espiritual há bênçãos, onde menos esperamos: A prisão de José: levou-o ao governo – Gn 45.1-8; As perdas de Jó: terminaram em bençãos dobradas – Jó 42.10-17; O espinho da carne de Paulo: abundou a graça de Deus – 2Co 12.7-9. O que não devemos fazer? Entristecer o Espírito de Deus. Ef 4.30-32. Não podemos negligenciar o poder de Deus, a atuação do Espírito Santo, por causa do medo, tal atitude de conter ou reprimir a atuação de Deus é um erro gravíssimo. Pois reprimir a vontade de Deus não é um erro leve; mas quando o homem e a mulher de Deus proclamam o Reino de Deus no mundo: O inferno se abala. Mt 12.28,29; Mc 1.23,24; Jo 18.36; Destrói-se o domínio de Satanás. João 12.31; 16.11; Há libertação. At 26.18; Mc 3.14,15; Rm 6; Há cura divina. At 4.30; 8.7; Salvação e santificação. Jo 3.3; 17.17; At 2.38-40; 2Co 6.14-18 e Batismo no Espírito Santo com poder para testemunhar. At 1.8; 2.4 “Combater o farisaísmo, desmascarar a impostura, prostrar as tiranias, as usurpações, os preconceitos, as mentiras, as superstições, demolir o templo, mas reconstruí-lo, quer dizer, substituir o falso pelo o verdadeiro, agarrar um chicote e pôr fora os vendilhões do templo, proclamar liberdade aos cativos e o Reino de Deus, esta é a guerra de Cristo.” Victor Hugo
‘O Senhor é homem de guerra; YAHWÉH é o seu nome’. Ex 15.3

3. O Temor do Senhor
‘O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei?’ Sl 27.1 “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; e o conhecimento do Santo é o entendimento.” Pv 9.10; temor de respeito e temor de amor. È o dever de todo homem, Ec 12.13





Conclusão


Se o nosso coração nos condena, certamente Deus é maior, 1João 3.20; e os nossos medos foram substituídos pelo perfeito amor, 1João 4.18; este amor nos constrange (2Co 5.14) e nele estamos na graça e pela graça (Ef 6.24). Deus pode a todo instante. É esse o combustível da fé, que resolve contradições e elimina os nossos medos. “E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” Rm 8.28 “Poderíamos dizer que o próprio Deus não pode escolher o que não é bom, e que a liberdade deste SER todo-poderoso não o impede de ser determinado por aquilo que é o melhor.” Leibniz. “Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera,” Ef 3.20
O medo traz desespero e ansiedade. Deus traz paz e cuidado. “lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.” 1Pe 5.7
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; eu não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” Jo 14.27.
“No amor não há medo antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo envolve castigo; e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor.” 1Jo 4.18

terça-feira, fevereiro 12, 2008

O CRISTÃO E O FILÓSOFO

Introdução
O homem é a criação mais especial de Deus. Jesus diz que valemos mais que os lírios do campo e que as aves dos céus. Estudar o desenvolvimento e a capacidade intelectual do homem é conhecer a Deus. Pois ele fez isto no homem para que ele refletisse o Espírito Absoluto. Hegel, filósofo alemão na História da Filosofia nos levou a tal observação. Portanto, à luz da Bíblia, propomos o estudo da filosofia como a sua prática num estudo comparativo com passagens bíblicas.
Este livro está dividido em duas partes: a primeira é uma comparação com as passagens bíblicas e a segunda um diálogo entre cristão e filósofo.

1ª Parte


Da Aparência a Essência

Paulo em sua carta aos coríntios (1Co 13.12) nos diz que hoje vemos por espelho, mas então chegaremos ao pleno conhecimento quando vermos Jesus face a face. Sócrates, filósofo grego, pregador da moral e da ética já dizia que conhecer é passar da aparência a essência. Aqui Sócrates vê uma verdade divina. Todavia, Paulo vê a mesma verdade divina com aplicação para a eternidade. Sócrates diz que conhecer é passar da opinião ao conceito. Quando Cristo se manifestar eu o verei face a face, conhecerei como sou conhecido, isto é, não emito opinião, mas tenho um conceito sobre mim. Então terei pleno conhecimento de Cristo.


Conhece-te a Ti Mesmo

Jesus repreende as pessoas hipócritas que querem tirar o argueiro de seu irmão e não vêem a trave que há em seus olhos (Mt 7.5). Um grande problema é o esquecimento das pessoas de olharem para si mesmas. Sócrates encontra esta verdade: “Conhece-te a ti mesmo.” Um dos métodos de ensino de Sócrates era que a pessoa precisava olhar para dentro de si e descobrir a si mesma. Esta verdade foi plena e divinamente verificada por Cristo que manda o homem se auto-avaliar: “Do modo que pesares serás pesado.” Paulo também exorta que ao participar da Ceia do Senhor o cristão deve examinar-se a si mesmo. Sócrates descobre uma verdade do intelecto humano. Cristo demonstra esta verdade numa visão divina e eterna.


O Que os Ouvidos Gostam

Sócrates certa vez disse que é fácil granjear a fama de bem falar quando se fala justamente diante daqueles de quem se faz o elogio, é fácil adquirir boa reputação, fazendo, perante os atenienses o elogio dos atenienses. Pedro escreve que muitos homens maus seriam ouvidos por falarem coisas mui arrogantes de vaidades, seduzindo pessoas pela concupiscência da carne. (2Pd 2.18). Essas pessoas ouvem aquilo que gostam e seguem a tais pregadores inescrupulosos, ditos como certos porque falam aquilo que seus ouvidos carnais gostam.


Idéias Inatas

Platão nos diz que conhecer é recordar a verdade que já existe em nós. De alguma maneira o homem, seja qual for, necessita de Deus. Dentro de si existe o espírito que anseia por Deus. Descartes, afirmava que nossas idéias inatas são a assinatura do Criador no espírito das criaturas racionais e só podem existir porque já nasceram com elas. Podemos recordar de Deus porque antes ele nos predestinou a sermos conforme a sua imagem, para ser mais preciso, a imagem de seu filho (Rm 8.29).


O Mundo Real

O escritor aos Hebreus nos diz que este mundo não foi feito do que é aparente (Hb 11.3). Platão dizia que este mundo é cópia do mundo verdadeiro e real. Que o mundo verdadeiro é o das essências imutáveis. O escritor aos Hebreus com espiritualidade alcançou o entendimento desse mundo, é o mundo de Deus, o universo celestial da mente de Deus e da sua palavra imutável, onde nenhum ser passa para o seu contraditório.


A Idéia de Deus

A idéia de Deus foi colocada em mim pelo próprio Deus. Tal idéia não procede do nada nem tão pouco de mim mesmo que sou finito, mas de Deus. È esta a verdade que Descartes descobriu, que Paulo viu nos atenienses que ansiavam por Deus a ponto terem e honrarem um altar ao Deus desconhecido, invisível. Eles buscavam o Deus perfeito (At 17.23).


A Memória

Há na memória colocada por Deus, na razão moldada por Deus, como dizia Agostinho, tesouros inumeráveis, onde estão presentes o céu e a terra. Onde encontramos a nós mesmos e a Deus. Por isso o mesmo Espírito que molda, que ensina é o que faz vir a tona, que faz lembrar o que há na razão (João 14.26).


Causas Exteriores

Não podemos deixar que causas exteriores a nós venham nos dominar. Não devemos submeter-se às paixões. Isto está na Ética de Espinosa. Paulo já advertia para não nos deixarmos levar pelo jugo desigual: “Que comunhão tem a luz com as trevas” (2Co 6.14). Logo não devemos ser passivos, deixando-se dominar por causas externas, mas antes ser luz e rejeitar as trevas e seus ardis. Ser cristão é participar da comunhão verdadeira, é se prender aos adoradores de Deus. Prender-se no sentido de ter comunhão. Espinosa dizia que a verdadeira liberdade é aquela alcançada na companhia dos outros do que na solidão. Pois ali somos gratos e reconhecidos. Por isso vemos a liberdade real na comunhão da Igreja, no partir dos pães, nas orações (At 2.42) e, na sua plenitude, nas Bodas do Cordeiro e no gozo da eternidade.


O Procedimento da Prova

A argumentação entre várias idéias, e o mero falar não cumpre o papel de instrumento do pensamento verdadeiro, é preciso o procedimento de prova ou demonstração. Assim declara Aristóteles. Quando olhamos para a transfiguração de Jesus (Mt 17.2) encontramos naquele momento rápido não mais a força dos argumentos, mas a demonstração da divindade de Cristo. Deus não fica apenas na argumentação da palavra. Ele se transfigura, isto é, se demonstra ou se revela divinamente materializado. Fazem parte dessa demonstração nossas experiências providenciais com Deus.


A Transformação

Aristóteles descobre uma verdade a respeito da transformação: A mudança ou a transformação é a maneira pela qual as coisas realizam suas potencialidades contidas em sua essência. Não é a transformação do grão em planta ou árvore a realização de seu potencial? Assim quando Jesus compara a fé a um grão de mostarda (Lc 17.6) ele nos ensina que a fé é o potencial onde está contido aquilo que acreditamos e a realização é a transformação do potencial no concreto, do grão em planta. Tudo se rende ao potencial da fé. Por isso, o apóstolo João escreve: A vitória que vence o mundo é a nossa fé.



A Liberdade

Declara Aristóteles: Livre é aquele quem tem em si mesmo o princípio para agir ou não agir. Deus fez o homem assim. Ele tinha a opção de obedecer ou não obedecer (Gn 3.6). Deus o fez livre.



Conhecimento Sobre a Realidade

Todo conhecimento, não basta ser inteiramente coerente, ele deve ser conhecimento sobre a realidade. Concluiu Aristóteles. Jesus condena os farizeus por terem o conhecimento, mas, distantes da realidade, impediam que outros entrassem nas verdades eternas (Lc 11.52)


A Estrutura da Razão

Paulo nos diz em Rm 2.14 que os gentios , que não têm a lei, para si mesmos são lei. Kant declara que possuímos uma consciência com uma estrutura necessária e a priori que organiza conceitos, sensibilidades e categorias de entendimento. Deus nos dotou de tal estrutura universal, na consciência para que pudéssemos pensar e realizar máximas imperativas universais para vivermos em sociedade.


Conteúdos da Razão

Qual é o motivo da esperança que há em nós? (1Pd 3.15) Temos tal convicção pelas experiências ou isto ocorre antes da experiência? Kant afirma que os conteúdos da razão dependem da experiência porém a razão é anterior a experiência. Ela fornece a forma. Nossos testemunhos e experiências são a matéria do nosso conhecimento, todavia, quando nos entregamos a Cristo, mesmo sem a experiência já possuímos a estrutura da salvação (universal e necessária) no novo nascimento, exemplo disso é o ladrão da cruz, não praticou obras, mas já tinha a certeza a priori da salvação.


Realidades Além do Racional

Certas realidades não podem ser racionalmente conhecidas, porém, são ideais de nossa razão que se transformam em fundamentos de nossa ética. Conclui Kant. Quando Paulo vai ao terceiro céu e houve palavras inefáveis (2Co 12.4). Ele contempla uma realidade que está fora do tempo e do espaço racional. São verdades que fundam nossa ética cristã, são realidades espirituais.


As Razões do Coração

Pascal, famoso matemático e filósofo, dizia: “É o coração e não a razão que sente Deus.” “ O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Quando os discípulos, iam pelo caminho de Emaús, o consciente não dizia que era Jesus, no entanto, o coração acusava que algo ali era diferente. O coração sentia Jesus. Por isso eles disseram “ Por ventura não ardia o nosso coração quando nos abria as escrituras.” Muitas vezes quem sente a Deus é o nosso coração. Ele arde mais que a razão, é o fogo que arde a nossa vida, é o fogo que arde o altar de nossa alma.


O Conceito

Os conceitos, explica Hegel, deformam e empobrecem o fenômeno. Quando os fariseus disseram que Jesus tinha demônio (Mc 3.20), eles deixaram que seus conceitos enfraquecessem a necessidade e a benção da libertação.


Satisfação da Alma

Hegel afirma que esperamos e exigimos não apenas a satisfação da lembrança, mas da alma. Deus levantou por Moisés uma serpente no deserto (João 3.14) não apenas para a satisfação da lembrança, mas para prefigurar a Cristo crucificado o qual está na alma satisfeita.


O Fenômeno

Husserl ensina que cada campo do conhecimento tem o seu método próprio determinado pela natureza do objeto. Natureza essa que Paulo observou para cada tipo de pessoa evangelizada: “Fiz-me como fraco para os fracos. Fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns.” 1Co 9.22 A evangelização de Paulo era determinada pela natureza de quem era evangelizado, pela forma e modo de aproximação.


Contra o Etnocentrismo

Para Merleau-Ponty a razão estaria destinada ao fracasso se não fosse capaz de oferecer a si própria trabalho racional de conhecimento. A razão alargada luta contra o colonialismo e contra o etnocentrismo. Paulo obteve a perda do etnocentrismo e o ganho de uma consciência espiritual e alargada, o ganho de Cristo Jesus (Fp 3.8) Além de aceitar as diferenças Paulo, o apóstolo dos gentios, vê a igualdade universal e o convite à salvação em Cristo Jesus para todos os homens.


A Consciência e o Fenômeno

O centurião que foi a Jesus conhecia os fatos e a estrutura do funcionamento (Mt 8.13). “Conhecer os fenômenos e conhecer a estrutura e o funcionamento necessário da consciência são uma só e a mesma coisa.” Afirma Husserl. Pois o fenômeno já é constituído pela consciência. O centurião sabia que seu criado poderia ser curado pois ele conhecia o fenômeno da cura através de Jesus, sabia que Jesus poderia curar a distância pela sua própria experiência de autoridade a distância. Todo o processo para a cura de seu servo já estava em sua consciência. Ele creu e isso o fez ver o que não existia fora de sua consciência, mas que sua fé e seu conhecimento já apontava a solução.



O Homem Está Fadado a Liberdade

Paulo afirmou que tudo podia fazer, mas nem tudo convinha fazer. O homem é livre, a aceitar ou resignar-se, ceder ou não ceder é uma decisão livre e nossa. Por isso Sartre dizia que a liberdade é uma escolha incondicional do homem. Alguém poderia dizer: E quem é coagido? Quem está preso? Paulo e Silas demonstraram no cárcere, perto da meia noite, que mesmos presos eram livres para orar e louvar a Deus (At 16.25). Ainda segundo Sartre “O que importa não é o que fizeram conosco e sim o que fazemos com o que quiseram fazer conosco.”Paulo e Silas fizeram do mal causado a eles uma hora de benção e culto a Deus. Podemos como Rute dar um sentido novo a fatalidade. Ela tomou a decisão de ficar com Noemi e o Senhor: “O teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus.” Como disse Gabriel Marcel “Viver é ter consciência de que algo nesta vida depende de mim e só de mim”.


2ª PARTE

O DIÁLOGO


Cristão: Você crê que tudo o que existe foi feito do que não é aparente e foi feito por Deus?

Filósofo: Numa concepção panteísta eu diria que tudo é Deus e Deus é tudo. Posso achar também que tudo o que existe é matéria e energia, sem existir um eu consciente ou uma causa que ligue os acontecimentos.

Cristão: Aquele que se aproxima de Deus precisa crer que ele existe e que recompensa quem o busca. Sem fé é impossível agradar a Deus. As coisas visíveis e invisíveis foram feitas por Deus. Deus mesmo é Espírito e importa que o adoremos em espírito e em verdade. Sentir Deus, um Deus pessoal que se revela através de seu filho amado Jesus Cristo, é ter o coração em chamas diante daquilo que lhe pertence e de seus assuntos. “Andamos inquietos enquanto não encontramos a Deus”. Necessitamos apenas de um toque em suas vestes, de uma migalha que caia de sua mesa, de uma palavra sua ou de seu olhar amável e carinhoso.

Filósofo: Minhas experiências podem ser interpretadas de uma forma subjetiva e particular. Quem pode afirmar que minhas conclusões empíricas não são frutos do meu eu subjetivo? Nossa mente dá significado as coisas e minha razão pode ser fruto dos meus sentimentos.

Cristão: Quanto mais conheço a Deus e os seus propósitos mais aumenta a minha fé e meu amor por Cristo Jesus. Ele é o único caminho, a verdade e a vida. Pode vir a tempestade que a minha casa não será derrubada. Mesmo que chegue a um lugar sem saída, Deus me fará passar em Cristo Jesus além do mar das dificuldades. Prostrado olharei para Cristo e ele exaltará o meu coração.

Filósofo: Alguns crêem que possuímos um conhecimento inato de Deus em nosso ser e que há princípios e máximas morais universais que conduzem-nos a necessidade de um bem maior ou ao sumo bem. Há quem veja uma ligação entre sujeito e objeto no desenvolver do Espírito Absoluto. Deus se revela nesse ora sujeito, ora objeto. Deixa de ser abstrato para ser conhecido: O Deus de conteúdo. Pode-se chegar, também, a pensar que não há realidade exterior e aquilo que existe só existe porque Deus dá significado e faz existir no meu eu subjetivo.

Cristão: Quanto mais conheço a Deus e seus propósitos para minha vida, mais entendo o que está ao meu redor. José entendeu o que Deus queria dele e soube perdoar o mau feito pelos seus irmãos no passado. Procuro ter a mente de Cristo seguindo as Escrituras, e assim se ele nos libertar verdadeiramente seremos livres. O fardo do Senhor é leve e seu jugo é suave. Não é algo que não possa carregar e ele não nos prova além das nossas forças.

Filósofo: Tentar dominar o meu futuro e o que me acontecerá como domino aquilo que está a minha mão ou ao meu alcance, não é dar um valor falso e até mesmo irreal ao meu desejo ou a minha vontade? Não é melhor estar aberto a todas as possibilidades? Desconstruir para alegrar-se numa infindável novidade de possíveis. Não é isso que nos faz continuar após uma desilusão? Não é na angústia do sofrimento e da tragédia que tomamos novos rumos?

Cristão: Ora, e quando me entrego a Cristo não sofro uma perda saudável? Quer mais aberto a possibilidades do que perder todo o meu eu para ganhar a Cristo. Quer mais individualidade do que quando me conscientizo dos meus pecados. Paulo já dizia: sei passar necessidade e ter em abundância. Posso todas as coisas naquele que me fortalece. A minha fé em Cristo me faz vencer o sofrimento e a tragédia. Ando por fé e não por vista, estou aberto a todas as possibilidades de Deus, sabendo que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus. A fé me dá a certeza que o meu espírito testifica com o Espírito de Deus que sou filho de Deus e por isso salvo em Cristo Jesus.

Filósofo: O uso indevido do conhecimento lógico racional produz a ilusão de uma crença sólida; às vezes a razão ultrapassa a si mesma. Alguns dizem que o conhecimento lógico racional nos ajuda a pensar, a ordenar nossos pensamentos, contudo pode não nos revelar a verdade ou a realidade. Não que sua realidade, seu conhecimento e suas razões sejam inválidas. Há verdades que são verdades para aquilo que é útil, para aquela sociedade ou pessoa.

Cristão: O Senhor Jesus é a verdade. Muitas vezes acessível, basta procurar e achar, algumas vezes misterioso e oculto. Imanente e transcendente. “Ó Deus tão alto, tão excelente, tão poderoso, tão misericordioso e tão justo, tão oculto e tão presente, tão formoso e tão forte, estável e incompreensível, imutável e tudo mudando, nunca novo e nunca antigo”.

DERRUBANDO OS CONFLITOS DA ALMA

Lição 1
A Cura Para O Pecado

Texto Principal
Romanos 6.1-3,6,8,11-13

Introdução
As conseqüências do pecado de Adão e Eva perduram por toda humanidade.
O pecado levou a humanidade a degradação.
A Bíblia afirma que “todos pecaram e destituídos foram da glória de Deus” Rm 3.23; e “o salário do pecado é a morte” Rm 6.23

1.Início e Abrangência do Pecado
Pecado no seu sentido principal é errar o alvo, do grego hamartios, Jo 9.41. Também há no grego para descrever pecado: adikia, praticar injustiça, 1Jo 5.17; anomia, transgredir a lei, 1Jo 3.4; apistia, abandonar a fé, Hb 3.12. Ver Rm 5.12; Sl 78.10,11.
O pecado vai contra a vontade e o caráter de Deus. Deus é Santo (no hebraico qadosh e no grego hágios) e o pecado nos afasta de sua santidade.
Deus deseja ter uma intima comunhão com o homem, do grego koinonia, do latim comunicare, comunicar. O pecado afasta o homem da comunhão com Deus.
1,1 A Origem do Pecado
Agostinho nos diz que o mal é a ausência do bem, não é uma substância palpável, mas uma atitude de se afastar do certo, do Supremo Bem, de Deus: “Procurei o que era a maldade e não encontrei uma substância, mas sim uma perversão da vontade desviada da substância suprema – de ti ó Deus”. No momento que Satanás se afasta de Deus, que deseja algo contrário a vontade de Deus ele gera o mal e conseqüentemente o pecado. Ver Ez 28.15.
Satanás levou o homem e a mulher também a desobedecer a Deus, a pecar contra Deus. Gn 3; Rm 5.12-19.
1.1.1 O Coração do Pecado
O egoísmo é o coração do pecado. Nele reside o orgulho e a rebelião. No sofisma de querer ser igual a Deus, levados pelo engodo de Satanás e de sua falácia, Adão e Eva caíram e perderam a glória de Deus, Gn 3.5
1.2 A Essência do Pecado
O pecado original, herdado de Adão, é universal. Sl 51.5 Neste sentido a palavra mundo, no grego Kosmos, assume a forma de uma humanidade caída que Deus deseja resgatar Jo 3.16. Todavia, assume também uma atitude e vontade guiada pelo “deus deste século” 2Co 4.4, que é uma total rebelião e perversão contra Deus, 1Jo 3,8.
O pecado é também individual. Kierkegaard afirma que nada mais individualiza o homem do que o seu pecado. Mesmo sendo influenciado por forças demoníacas (Ef 6,11) o indivíduo é responsável por suas atitudes, Rm 14.12.
Deus sempre quis resgatar o homem de seus pecados. Este é o sentido original do sacrifício: o resgate (da palavra hebraica kippurim, expiação derivado da palavra kaphar, que significa cobrir). Deus deu ao homem a lei para orientá-lo a não pecar, porém o coração egoísta fez com que a lei ficasse enferma, pois a transgredindo o homem dava legalidade ao pecado; e aquilo que era para vida transformou-se em morte. Erradamente os gregos (estóicos, platonistas etc) e os judeus viram a força do pecado no corpo, grego soma. A força do pecado está na vontade egoísta do homem, na concupiscência da carne, do grego sarxis. Esta força só é quebrada, não pela lei, mas aceitando Jesus Cristo como salvador e seu sacrifício na cruz, Rm 4.1; 1Pe 1.18,10



2. Conseqüências do Pecado
O pecado escraviza o homem, Rm 6.16, Influencia seu caráter e lhe traz comportamentos afastados da vontade de Deus.
A culpa é inerente a consciência daquele que erra. É culpado para si e para Deus. A culpa sem arrependimento merece condenação, Tg 2.9,10; Gl 3.10
Karl Barth interroga, o que é o homem agora, após a queda e aquém da ressurreição:
“O homem é o seu próprio senhor e a sua condição de criatura é o seu grilhão, seu pecado, a sua culpa; sua morte, o seu destino; seu mundo é um caos disforme que flutua ao léu sob a ação de forças naturais, anímicas e algumas outras. Sua vida é uma aparência”.
Todavia há quem não se sinta culpado pois tem a sua consciência cauterizada pelo pecado, com ele estabelece uma sorte de compromisso, um modus vivendi. A condenação deste nesta condição também é certa. Ver 2Co 510; Rm 14.10.
A morte é o pagamento do pecado, Rm 6.23. Na Bíblia há três tipos de morte: morte física, conseqüência do pecado do primeiro homem, Gn 2.17; morte espiritual, quando a pessoa está separada de Deus, Ef 4.17,18 e morte eterna quando após julgado for lançado no lago de fogo Ap 20,14,15

3. A Cura
O único mediador entre Deus e os homens é o nosso Senhor Jesus Cristo. Só ele pode perdoar nossos pecados, 1Jo 1.9. Ele é o Sumo Sacerdote da graça, de linhagem eterna, sem princípio nem fim. Aquele que o nosso coração não encontrava descanso antes de encontrá-lo.“Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-te! Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava contigo!” Nele e com ele o nosso pecado foi crucificado na cruz. Morreu o nosso velho homem e ressuscitou o novo homem, Rm 6.6-8 para viver em novidade de vida 2Co 5.17

Conclusão
“Uma das definições capitais do cristianismo é que o contrário do pecado não é a virtude, mas, sim a fé” Kierkegaard. Nietzsche declarou que a moral muitas vezes é imposta e é força de alienação. Jung afirma: “A condenação moral não liberta; ela oprime e sufoca. A partir do momento em que condeno alguém, não sou seu amigo e não compartilho de seus sofrimentos; sou o seu opressor”. Ora pecar não é só transgredir uma lei; é rejeitar a obra de Cristo na cruz e os princípios da Palavra de Deus. É algo que procede do coração humano, donde Jesus nos diz que saem os maus desígnios. Aquele que se arrepende de seus pecados, do grego metanóia voltar às costas para o pecado, e crê em Jesus, grego pisteo que significa entregar-se por completo sem ressalvas, passa para o Ministério do Espírito, 2Co 3.3-11, para a obra da graça de Deus, do grego káris, favor imerecido. Como afirma Lutero: “Só o preso é liberto, só o fraco é robustecido, só o humilde é exaltado; só o que está vazio se farta. Apenas o nada se torna algo”.
Vivendo segundo o fruto do Espírito, Gl 5.22,23, contra o qual não há lei ou moral imposta, pois a lei de Cristo é espírito e vida.