terça-feira, agosto 22, 2006

Hegel

HEGEL

I- Raymond Plant
Hegel fornece uma interpretação profunda da trindade:
“O primeiro momento é a idéia em sua universalidade simples, para ela mesma, auto-encerrada, não tendo ainda progredido para a divisão primária, para a alteridade – O Pai. O segundo é o particular, a idéia na aparência – O Filho. É a idéia em sua externalidade, tal que a aparência externa é convertida no primeiro [momento] e é conhecida como a idéia divina, a identidade do divino e do humano. O terceiro elemento, então, é essa consciência – Deus como o Espírito. O Espírito enquanto existindo e se realizando a si mesmo é a comunidade.”

Se “espírito” não é uma palavra vazia, então Deus tem de (ser aprendido) sob esta característica, justamente como na teologia eclesiástica de outrora Deus era denominado “triuno”. Essa é a chave pela qual a natureza do espírito é explicada. Deus é apreendido, portanto, como o que é para si mesmo em si mesmo, Deus (o Pai) faz, ele próprio, um objeto para si mesmo ( o Filho); então, nesse objeto, Deus permanece essência indivisa no interior dessa diferenciação de si mesmo em si mesmo; e nessa diferenciação de si mesmo ama a si mesmo, isto é, permanece idêntico a consigo mesmo – isto é Deus como Espírito. Portanto, se temos que falar de Deus como espírito, temos de apreender Deus com essa verdadeira definição. Qu existe na Igreja nesse modo infantil de representação, com relação entre o pai e o filho – uma representação que ainda não é o objeto do conceito. Portanto, é precisamente essa definição de Deus na Igreja, como Trindade, que é a determinação concreta e a natureza de Deus como espírito; e espírito é uma palavra vazia, se não apreendido nessa determinação.

Porém, quando a teologia moderna afirma que não podemos ser cognição de Deus, ou que Deus não tem ulteriores determinações em si mesmo, ela conhece apenas que Deus é como algo abstrato sem conteúdo; e dessa maneira Deus é reduzido a essa abstração vazia. É inteiramente o mesmo se dizemos que não podemos ter cognição de Deus ou que Deus é somente um ente supremo. Na medida em sabemos (somente) que Deus é, Deus é o abstractum. Conhecer Deus significa ter um conceito definido, concreto de Deus. Como tendo meramente existência, Deus é algo abstrato, no entanto, quando (Deus é) conhecido, temos uma representação com um conteúdo. Se a representação para o efeito de que Deus não pode ser conhecido fosse sustentada por exegese bíblica, precisamente então, a propósito dessa explicação, teríamos de nos voltar para outra fonte a fim de chegar a um conteúdo em relação a Deus.

“A idéia divina é precisamente isto: manifestar-se, colocar o Outro fora dela mesma e retomá-lo novamente no interior de si mesma com vistas a ser subjetividade e espírito”.
“Se Deus é oni-suficiente e não carece de nada, como é que ele chegou a se desprender de si mesmo em algo tão claramente desigual a Ele? A idéia divina é precisamente esta autoliberação, a expulsão desse outro para fora dela próprio e sua reaceitação novamente, com o fito de constituir subjetividade e espírito”.

“Essa identidade é intuída no Cristo. Como o Filho do Homem, ele é o Filho de Deus. Para o Deus –homem não há além. Ele não conta como esse indivíduo singular, mas como homem universal, como verdadeiro homem. O lado exterior de sua história deve ser distinguido do lado religioso, Ele suportou o mundo efetivo, suportou a baixeza, ignomínia, morreu, Seu suplício foi a profundeza da unidade entre a natureza divina e humana no sofrimento vivo. Os deuses bem-aventurados pagãos foram representados como num mundo além; através de Cristo, o ordinário mundo efetivo, essa baixeza que não é abjeta, é ela mesma santificada.”

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