quarta-feira, setembro 13, 2006

ARTE E SOCIEDADE

Adorno, Marcuse e Benjamin

A ambivalência do esquecimento corresponde à da memória: instrumento de inculcar deveres opressivos, ela se torna arma da revolução, motor da negatividade criadora, no instante em que o Espírito revive seu calvário (Hegel) ou em que o paciente recorda os traumas originários da neurose (Freud).

O absoluto que consiste em “pôr-se a si mesmo”, isto é, em desdobrar-se ante a consciência, é o que Hegel chama Espírito... O Espírito é a um só temo desdobramento e reflexão. O Espírito se torna outro, para si próprio. Por isso, a despeito de ser a substancia de todos os seres, ele só é, em grau superior, nos seres dotados de reflexão, e por isso a Fenominologia é a crônica da vida do Espírito enquanto ele se confunde com os diversos estágios da consciência e da historia da humanidade.

Na Filosofia da Religião, o filósofo [Hegel] não poderia ter sido mais explícito: “...a história do conteúdo de Deus é também, essencialmente, história da humanidade, o movimento de Deus em direção ao homem e do homem em direção a Deus”.

A exaltação frankfurtiana da dignidade da consciência crítica reconhece no Absoluto que se transforma consciente da sua transformação um claro e ilustre ancestral. Assim Adorno reencontra Hegel quando afirma que também na obra é o Outro – a brecha que contesta, pela diferença, a opressão da sociedade. Todo grande artista prefere a ruptura à falsa harmonia da forma identificante, assimiladora, igualitária.Este foi o desafio de Mahler em cuja obra “a ruptura se torna lei formal”, e de Kafka, cuja forma era “negada” pelo conteúdo da sua narrativa.

O estilo que testemunha a desumanização não pode transmitir o naturalmente humano, o valor e a qualidade que a repressão destrói ou neutraliza, O estilo que presencia a violência é ele próprio vítima da tortura: é como forma amaldiçoada e retorcida que se recusará a dizer, numa última resistência, num protesto tão raivoso quanto inútil contra a falta do sentido real... A ruptura do estilo é uma forma de guerrilha, uma estratégia de subversão estética inspirada no anelo desesperado da subversão real.

Por não ser, a rigor uma simples estética, e sim uma ética utópica modelada artisticamente, a teoria de Marcuse expõe sempre uma arte triunfante, baseada na expressão tranqüila e plena de uma harmonia superior. A vida na sociedade sem repressão é uma obra de arte clássica. Em contraste com esse esteticismo glorioso, a arte segundo Adorno é a encarnação do desespero, da revolta e da dilaceração.

O culinário em arte representa a vitória do “gostoso” sobre a profundidade emotiva e a carga intelectual do verdadeiro processo estético.

Lucáks explica a relação entre a obra de arte e a realidade através da categoria de reflexo-reflexão. A obra de arte reflete o mundo e ao mesmo temo reflete sobre o mundo.

Lucáks vira no romance a mediação dialética entre duas formas literárias historicamente anteriores a épica e a tragédia. O espírito da epopéia seria o sentimento de comunhão do homem com o mundo; o espírito da tragédia, a denúncia da desarmonia entre o indivíduo e a comunidade, entre o humano e a ordem social. Definido em relação a ambos esses pólos, o romance representaria a solidão, porque o herói romanesco, tal como protagonista da tragédia, procura valores que inexistem na sua sociedade. Mas a solidão acompanhada de uma certa ligação com a coletividade, porque esta, tanto quanto herói à procura deles, desconhece os valores qualitativos, as normas autênticas. O herói só se opõe ao mundo enquanto os busca, porque a sociedade não o segue nessa caça axiológica.

Sem comentários: